domingo, 12 de abril de 2009

Para quem se interessa pelas coisas da terra e do território aconselho uma leitura da versão portuguesa das Geórgicas de Virgílio traduzidas e comentadas pelo Prof. Ruy Mayer que foi professor catedrático do Instituto Superior de Agronomia (Livraria Sá da Costa, 1948).
As Geórgicas foram escritas por solicitação de Augusto que, num quadro de abandono da actividade agrícola, entendeu a necessidade de estimulara o regresso à agricultura de nuitos daqueles que a tinham abandonado.

Marcos Terêncio Varrão, num livro anterior (De re rustica) dá conta desta tealidade ao escrever que "agora que os chefes de família, abandonando campos e charruas, vieram quase todos para Roma, e preferém utilizar as mãos para bater palmas no circo a servir-se delas para para amanhar as vinhas ou empunhar a rabiça do arado, vemos-nos obrigados a comprar trigo na Sardenha e a vindimar nas ilhas de Cos e Quios".

Estando assim em causa a estabilidade do Império, Augusto terá procurado suster a decadência da pequena propriedade, e com isso reforçar a capacidade de coesão interna e de apoio das legiões, incentivando à reanimação da cultura cerealífera em Itália e à dignificação da agricultura como actividade económica e de prestígio social. é natural que lhe tenha ocorrido a ideia de aproveitar o génio de Vergílio para activar a propaganda dos seus desígnios".

Sendo este um dos meus livros de cabeceira, ao iniciar este curso de e-learning não posso deixar de evocar Virgílio nestes seus versos do Livro II das Geórgicas:


Me vero primum dulces ante omnia Musae,
quarum sacra ferum ingenti percussus amore,
accipiant caelique vias et sidera monstrent,
defectus solis varios lunaeque labores;
unde tremos terris, qua via maria alta tumescant
obicibus ruptis rursusque in se ipsa residant,
quid tantum Oceano properent se tingere soles
hiberni, vel quae tardis mora noctibus obstet.


Os quais o prof. Ruy Mayer traduziu da seguinte forma:
"O que para mim peço é que as Musas, a quem sirvo como sacerdote, e a quem acima de tudo quero com profundo amor, me acolham e me ensinem as sendas do céu, e os astros que as percorrem; os eclipses do Sol e os da Lua; qual a causa dos terremotos; que força faz encapelar os mares profundos, que tudo derrubam diante de si, para de novo abaterem; porque razão os sóis do inverno se apressam tanto a mergulhar no Oceano, e que obstáculo torna tão lento o caminhar das noites".

Se Vergílio fosse vivo ainda querereria saber como é poderia tirar partido do e-learning!




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